Classic meets Africa


O Classic meets Africa, um projecto criado em 2015 por Ana Maria Pinto com a colaboração de Joana Peres, Eliseu Silva, Miguel Gullander e Zé Beato, é um dos projectos da Novaterra, Associação Cultural Arte e Ambiente, que pretende criar pontes entre mundos distantes, mas que uma vez em contacto se fortalecem mutuamente. No encontra da música clássica com as danças africanas revela-se um espaço de partilha intercultural extraordinário em que todo o movimento é alavanca para a mudança, aquela que rima com dança. Um projecto que desafia o artista e o próprio público, com os traços indeléveis da música clássica, os gestos puros e a energia arrebatadora das danças africanas.

Ao longo do período lectivo de 2015/2016 foram realizados 8 concertos que contaram com a participação da Orquestra Juvenil da Bonjóia, a Allatantou Dance Company, Ana Maria Pinto e Zé Beato (Xinganje e Kaviula), assim como um Ensemble Vocal Feminino. Os concertos realizaram-se no Rivoli, Teatro do Campo Alegre, Auditório Municipal de Gondomar, Auditório Municipal de Vila Nova de Gaia, Palácio das Artes, no Agrupamento de Escolas do Cerco e na Fundação Cupertino Miranda. O Classic meets Africa marcou também presença no Festival "África mostra-se" na Biblioteca Almeida Garrett em Outubro de 2016.

Na génese do projecto Classic meets Africa está a peça para Orquestra, Ensemble Vocal Feminino, Percussão Africana e Capoeira intitulada "A Dança de Xinganje e Kaviula" composta por Ana Maria Pinto no Verão de 2015. A peça está dividida em 5 partes:

- Apresentação do Xinganje - Orquestra, Piano, Percussão Africana e Bailarino

- Apresentação da Kaviula - Piano e Bailarina

- We came from the stars in the sky of Africa - Xinganje e Kaviula (vozes), Vozes em palco e vozes do público.

- Encontro do Xinganje e da Kaviula - Orquestra, Piano, Percussão Africana e Bailarinos

- Mundos dentro de mundos - Ginga que toca - Orquestra, Piano, Ensemble Vocal Feminino, Percussão Africana, Capoeira e Bailarinos.


Um dos objectivos do projecto Classic meets Africa é a encomenda de obras com base na fusão da música clássica e das expressões rítmicas africanas. Colaboraram com o projecto até agora os compositores Ana Maria Pinto, Luís Costa, Nádia de Carvalho e Isabel da Rocha.  

"Nascido a poucos quilómetros físicos e espirituais deste mesmo país onde nos encontramos, Mahatma Gandhi desafiou-nos para uma das coisas mais difíceis do mundo: criar uma utopia num ponto invisível e daí ela alastrar-se para lá de todo o tempo, em ondas concêntricas. Esse ponto invisível é o lado de dentro do nosso coração. E o modo como Gandhi nos desafiou para uma tarefa impossível foi dizendo: Sê a diferença que queres ver no mundo. Essa é, seguramente, a maior das diferenças - a diferença utópica que começa a partir de um não-lugar, um espaço que não se vê, não existe nos mapas de país nenhum - mas que apenas se sente do lado inverso e escondido de tudo aquilo que nos mostram e nos ensinam. Esse lugar utópico é dentro de nós mesmos." Miguel Gullander, in Taxonomia de um sonho.

3 pontos nos is

interculturalidade

Laborar a interculturalidade com novas questões/novas respostas e o espaço aberto da Arte como veículo para a descoberta: a descoberta que parte da necessidade de se conhecer, de se saber quem, onde, porquê e para quê. Do interior para o exterior, estabelece-se uma ponte de diálogo e uma visão ampla do mundo e da sua diversidade, com foco no claro horizonte da cooperação. Mote para viajar connosco: Não é com ilhas do fim do mundo / Nem com palmares de sonho ou não / Que cura a alma seu mal profundo / Que o bem nos entra no coração. / É em nós que é tudo. É ali, ali, / Que a vida é jovem e o amor sorri. Fernando Pessoa.

objectivos

1 criação artística - Encomenda de obras musicais que fundam a música clássica com as expressões rítmicas africanas, e com caracter pedagógico (obras pensadas para a fusão de jovens orquestras com orquestras profissionais), com especial foco nos Bailados. As obras serão realizadas em Portugal com o corpo residente do Classic meets Africa em colaboração com entidades parceiras, como a Orquestra Juvenil da Bonjóia. Em África, as mesmas obras ,adaptadas às circunstâncias locais, serão realizadas com as estruturas e grupos existentes. A interpretação das obras será sempre realizada com artistas oriundos de ambas as culturas, a clássica e a africana, o que potenciará o desenvolvimento integrado das comunidades em Portugal e em África.

2 intercâmbio de artistas - Criação de plataformas e pretextos para o encontro e intercâmbio de artistas da cultura clássica e africana. É nossa missão estabelecer fortes elos de cooperação artística entre Portugal e África, para isso, criamos obras artísticas como os motores da interculturalidade. Cada obra é pensada especificamente para cada contexto e cada grupo interveniente. De modo a fortalecer os diálogos entre as diferentes culturas e de modo a enriquecer a educação artística dos intervenientes e do próprio público, serão realizados workshops com base nas tradições africanas e na música clássica em Portugal e em África.

inclusão social

Laborar a inclusão social tendo a interculturalidade como base de cura dos problemas que levam à exclusão social, ao insucesso e abandono escolar, à pobreza que atinge os grupos sociais mais vulneráveis como por exemplo as minorias étnicas, à intolerância e afastamento entre classes e grupos sociais. Através da cooperação com estruturas já existentes que visem um trabalho de integração social através das artes, (como é o caso da Orquestra Juvenil da Bonjóia e a Associação Cultural Monamon) o projecto Classic meets Africa pretende criar actividades e pontes que alimentem um sentido de rumo e auto-valorização, que elevem o sentido da cidadania e entre-ajuda.

objectivos

1 inclusão social através das artes - O projecto Classic meets Africa tem como objectivo apoiar e divulgar projectos de inclusão social através da participação de estruturas como a Orquestra Juvenil da Bonjóia nos espectáculos realizados, assim como favorecer, através do apoio nas entradas para os espectáculos e participação em workshops, os públicos mais carenciados.

2 criação de ateliers artísticos em África - A produção de bailados em África com as estruturas e grupos locais tem como objectivo fomentar a criação de companhias de dança e respectivos ateliers artísticos com a intenção de valorizar a cultura ancestral, assim como para a ocupação de tempos livres.

investigação

A criação de laboratórios de investigação, tendo a interculturalidade como espaço para a experiência, visa a consonância do campo de trabalho com a realidade de uma sociedade cada vez mais multifacetada e multicultural, assim como o reconhecimento das vantagens da interação entre as realidades afastadas. A interação do jovem aprendiz com as expressões rítmicas africanas, por exemplo, tem-lhe permitido um enriquecimento artístico fora do vulgar. Tendo o tactus do djambé, um tactus completamente livre do metrónomo mental, como fiocondutor da música, África revela-se como perfeita mentora do corpo artístico. O fortalecimento da intuição na aprendizagem artística, e sendo que a intuição, por ser própria da unicidade é imune a qualquer tipo de formatação, mostra-se como uma base propícia à desconstrução de todo o tipo de dificuldades. Por outro lado, visamos esclarecer historicamente a prática da música clássica de modo a retirar os véus que possam prejudicar a criatividade dos mais jovens.

objectivos

1 enriquecimento do ensino da formação musical - Como realizar um trabalho específico ao nível da intuição e da criatividade, articulado com os métodos de ensino corrente? O ensino da formação musical, por exemplo, decorre sobretudo ao nível do cálculo mental, fazendo com que a partitura se transforme muitas vezes num fosso entre a mente e a sensibilidade artística. O cruzamento com a vivência artística africana visa criar na vida do aprendiz um espaço aberto para o fortalecimento da sensibilidade, capacidade de improviso e intuição, assim como um outro tipo de relação com as dificuldades inerentes à aprendizagem de um instrumento.

2 enriquecimento da performance artística - Ocruzamento entre jovens orquestras e orquestras profissionais e a interação de ambos com os percussionistas africanos (que não sabem ler uma partitura) contribuí em muito para o melhoramento da performance artística. Novos desafios são traçados e novas posturas são geradas por si só, sendo naturalmente encontrada um outro tipo de disponibilidade para a vivência das artes.

3 valorização e prática da cultura ancestral - De modo a inverter as componentes da sociedade que impedem os mais jovens de aceder à história e heranças culturais ancestrais, pretendemos criar um espólio vivo e fiel às mais antigas tradições, fundamentais para a sobrevivência das qualidades do ser humano mais próximas da sua autenticidade, pureza e mais próximas das forças da natureza.

4 a criatividade na história da música ocidental - A prática da música clássica sofreu mudanças ao longo dos séculos. Com a aceleração das necessidades de uma sociedade em contínuo progresso, muitas variantes fundamentais para a saúde do campo das artes foram colocadas em segundo plano. O esclarecimento histórico da prática da música clássica servirá sobretudo para quebrar as barreiras que afastam o compositor do intérprete, assim como para fomentar a improvisação e a criatividade no ensino da música clássica. 

"Há uma qualidade rebelde na beleza. Nunca se deixa aprisionar, nem formatar. Nem limitar no tempo. A beleza está para lá das molduras, das partituras, das linhas, é para lá do tempo, dos números. É intemporal. É o zero. É o não-lugar em que não se aponta para nada de fixo que se veja. Mas, sim, é esse não-lugar, ele próprio, que tudo vê. A ponta do dedo vira-se para nós mesmos, para o epicentro, o grau zero de toda a experiência - e na ponta do dedo não vemos lugar nenhum, e aí está a utopia. Que cada pessoa seja mestre de si mesmo. Que cada pessoa seja a ilha e refúgio em si mesmo, dizia o Gautama. Uma ilha utópica - como a de Huxley - mas integrada num arquipélago de partilha em que cada um é, justamente, essa diferença que quer ver neste mundo multilingue e multicultural em que vivemos." Miguel Gullander in A taxonomia de um sonho.

3 pontos de exclamação

Visão

O projecto Classic meets Africa é na sua essência o arco e flecha daquele arqueiro disponível à mais profunda aprendizagem da sua arte, conhecendo o trajecto e sabendo o alvo, o corpo move-se para além de si mesmo, o corpo é o movimento da vida, que não se detém nem se limita. Tendo a interculturalidade como alvo, desenhamos o mais belo modo de desbravar caminho no desconhecido. Os mundos estão hoje em contínua expansão, e nunca foi tão fácil pisar terra desconhecida; a capacidade do ser humano comunicar com a diferença e estabelecer diálogo improváveis nunca foi tão importante, e o terreno nunca tão fértil!

Movimento

No movimento da vida, uma forma de conhecimento só é válida enquanto alavanca para a mudança. Muitos são os pensadores da história que nos confirmam: a única verdade que podemos abraçar na sociedade é a mudança. Os lugares da sociedade onde os preconceitos conseguem criar raízes prejudicam em muito o natural fluxo da diversidade de culturas que, hoje ,existe e se acelera a uma velocidade nunca vista. Esses mesmo preconceitos criam atritos e medos que interferem na estabilidade da sociedade. Com o cruzamento de culturas afastadas através das artes criamos um movimento profundo dos aspectos mais sensíveis do ser humano. Na arte e com a valorização dos artistas e suas respectivas culturas, são as componentes próprias da sensibilidade humana que, de um modo espontâneo, eliminam todas as emoções que possam servir formas de pensamento nocivas à paz entre as realidades afastadas.  

Celebração

No nosso campo de acção, a alegria é o ingrediente que contemplamos como o mais urgente nas sociedades imersas na acelaração contínua dos diversos afazeres, tanto para os adultos como para as crianças. Os espectáculos e eventos do projecto Classic meets Africa são em primeira instância uma celebração da vida. Todos os intervenientes, incluindo o público, são motivados para reconhecer o espaço onde a alegria existe por si só, o espaço da liberdade, onde todos são livres para celebrar aquilo que os caracteriza na sua unicidade e multiplicidade.